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Qual é sua ilha?

by - maio 23, 2018

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Qual é sua ilha?

"- Infelizmente não te posso explicar agora. Mas estás errado. Assim não poderás governar a tua ilha. Um verdadeiro governador, além de sábio, precisa ter valor para vingar ofensas e castigar ofensores."


O excerto acima faz parte de Dom Quixote, de Cervantes, encontra-se no capítulo IX onde Sancho Pança discute com D. Quixote sobre silenciar-se em relação a um grupo de arrieiros a que haviam estabelecido conflito por causa de Rocinante, cavalo de Quixote, a caminho da ilha de que Sancho buscava.

Tomando a almejada ilha de Sancho como a individualidade e a intimidade de cada indivíduo, podemos relacionar que assim como o acesso à uma ilha não é fácil, ninguém deve ter livre acesso aos nossos aspectos mais íntimos e particulares, por íntimos compreendam-se aqui não aspectos sexuais, mas aspectos emocionais como medos, inseguranças, incertezas, nossos pontos fracos e carências.
Por vezes nos distraímos e deixamos com que certas pessoas adentrem a essa ilha particular, também por vezes, diante de falsas expectativas, decepciona-mo-nos, frustra-mo-nos com a realidade nua e crua da rejeição, seja ela por meio de críticas ou de afastamentos cujos quais não conseguimos explicar ou compreender, na maioria das vezes.
Afinal, o que é preciso para que sejamos governadores de nossa intimidade?
As redes sociais estão repletas de respostas imediatistas, portanto genéricas, relacionadas a este assunto. Primeiramente, julga-se que para algo tão particular e complexo como o intimismo do ser humano, bem como os desejos e frustrações advindos dele, não podem ser respondidos com respostas simplórias. Em segundo lugar, apropriar-mo-nos de seguranças pessoais contra os arrieiros do cotidiano, tornam-se ferramentas fundamentais para o resguardo de nossa saúde física e mental.
Após longo período de autoconhecimento, podemos garantir que a conquista dessas seguranças supracitadas ocorram através de sensações, nem sempre atreladas ao consumo de coisas como livros, músicas, comidas, filmes, passeios etc. Sensações estas, que recorrentemente demoram a despertar no universo íntimo, pois é uma relação do interno com o interno.
"Vingar ofensas e castigar ofensores" nem sempre pode estar referindo-se à outros, talvez nosso principal ofensor sejamos nós e que nosso castigo seja a solidão. Isso depende do que estabelecemos como prioridades e com que gastamos nossas forças físicas e intelectuais no dia a dia, a solidão pode ser castigo ou porto-seguro, quem decide somos nós.
Governe sua ilha com maestria. Vingue ofensas e castigue seus ofensores, mantendo a ilha bem organizada e atraente para novos visitantes e quando eles chegarem, receba-os bem, mas não revele todos seus segredos, pois uma ilha misteriosa é muito mais interessante.





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